Friday, February 22, 2008

E assim nasceu a Casa da Guia

Era assim que dizíamos em família. Apenas "A Guia".

A construção da casa levou muitos anos. Só os alicerces, estiveram à vista 9 (nove) anos! A Guia foi inaugurada em 1895 pelo meu avô materno, D. José Saldanha Oliveira e Souza (Rio Maior). A sua mulher, minha avó Bárbara Tavares Proença não chegou a habitá-la, porque morreu em 1889. Quando este adoeceu, o avó José era muito amigo do Pasteur (este em França), que lhe aconselhou os ares da zona da Guia, onde passava a "Corrente do Golf Stream" e donde as andorinhas nunca saiam, verão ou inverno. O avô comprou várias parcelas, juntou-as com todas as autorizações, até de S. Majestade o Rei D. Carlos, Chefe do Estado, construiu a casa. A chamada "banheira" nome tão engraçado e nunca "piscina" como estranhos dizem, foi feita nessa ocasião, a tiros de dinamite, assim como a cisterna, a cocheira e a casa dos caseiros. Desgostoso, viúvo com 5(cinco) filhos tão pequenos, o meu avô alugou a casa.


Primeiros Inquilinos - Casal Bleck com seus filhos - avós por exemplo da Teresa Lousã (hoje Condessa de Antas). Estiveram 4 anos seguidos com muito conforto. O recheio da casa era na maioria do meu avô José, que o deixou assim como o da casa de S. Martinho do Porto, à sua filha Isabel (que foi Freira Dominicana). Minha mãe, futura Condessa das Alcáçovas e seus 4 irmãos, também vieram para a Guia, no verão, por 2 vezes em pequenos.


Segundos Inquilinos: Mª Amalia e Leonor de Carvalho Daun e Lorena (solteiras) alugaram a "Guia" por algum tempo para mudarem de ares. Mais tarde, dizia a minha mãe, o nosso parente Dr. António de Lancastre, médico da familia Real: "Foi o melhor sanatório que possa ter dado aos seus 14 filhos, estes ares da Guia, todos os Verões."


Terceiros Inquilinos: José Posser de Andrade e sua mulher, Maria Candida de S. Romão.


Minha mãe passou, na Guia, a lua-de-mel em 1900. A rir, contava que certa vez a cozinheira, de chapéu, entrou na sala a dizer que se ia embora: "Que aquele ermo era muito longe de Cascais, não ganhava para as solas". Mais tarde, o avô emprestou a casa aos meus pais por várias vezes. Morreu em 1912. A Guia, considerada muito longe, ninguém a queria. Ficou para a minha mãe no ano em que nasceu o seu 9º bébé em Sintra, a minha irmã Teresa (Viscondessa da Corte).O pai depois, fez grandes obras, pelo Arquitecto Vilaça que fez a casa dos Monte Real. Embelezou-a com azulejos e fez uma grande plantação de cedros e pinheiros. Plantava por ano centenas deles e só vingavam 5 (cinco). Nasceram na Guia, em 26/9/1910 as minhas irmãs, Maria da Piedade c.c Dr. Domingos de Câmara Pinto Coelho e em 21/8/1922, Madalena c.c Carlos de Castilho Santos Silva. Com esta era a 13ª dos filhos, foi tal a festa que os irmãos espalharam pela estrada fora, areia encarnada. Não existia a casa mais divertida. A luz das velas e petróleo com os da casa, 10 criados, 4 mestras internas de quatro nacionalidades diferentes, durante a guerra de 14 a 18, nunca houve discussões, dizia a mãe. Dormiram lá também os primos direitos - os 8 Lavradio e Rio Maior - e no tempo que não havia frigorifico nem máquinas.


Ninguém faltava à Missa e ao Terço diário.


Sobre os Azulejos
Os Azulejos da escada, do alpendre e da entrada eram da Capela da Rua de São Bento, do Palácio da Flôr da Murta. O pai, Conde das Alcáçovas, comprou-os com licença de sua Excelência o Cardeal Patriarca Mendes Belo. Os do frontal da janela da Casa de Jantar e os restantes das duas salas, foram adquiridos no Alentejo em caixotes pela viúva de Portugal (bric á brac das Janelas Verdes) e o meu pai comprou-lhos sem ver como eram. Séc.XVII.

A Guia foi inaugrada em 1895 e foi sua última dona, D. Mª Teresa de Saldanha Oliveira e Souza (Rio Maior), Condessa das Alcáçovas que morreu em 1973.

Gozou dela 78 anos, todos os verões, com os seus 14 filhos.

1 de Julho de 1994.
Leonor de Lencastre Oliveira

2 comments:

Unknown said...

Adorei ler esta história. Vou lá algumas vezes.
Tenho pena que Quantas histórias estão escondidas dentro de muitos edifícios como esse abandonados pelo país fora.
Estes edifícios, particulares ou não, fazem parte da nossa história e por isso deveriam de ser todos conservados em boas condições.

Anonymous said...

Obrigado por este maravilhoso post.Admiring o tempo e esforço que colocou em seu blog e informações detalhadas que você oferece.