Tuesday, January 22, 2008

Corações com mau feitio

Está agora a exposição no CCB!


"O nosso coração é como os dentes, a determinada altura perdemos os de leite e nascem-nos outros. O coração de leite é aquele cómodo com que nascemos e nos acompanha até um determinado momento da existência. Este momento corresponde à fase de incubação, uma espécie de ensaio. Na altura em que perdemos o coração de leite e nos surge um novo, sentimos sempre grandes padecimentos e muito desconforto, todas as nossas referências parecem alterar-se e este novo coração procura criar espaço para existir e estender fortes raízes. Contudo, existem seres teimosos que nunca chegam a mudar de coração. Estes são os que parecem estar dependentes de uma aleitação continuada e viciante, são também os que nunca crescem. Por vezes só com receio de poderem partir a incubadora que os protege do real. Os que parecem poder crescer, são os que têm coragem de mudar de coração, não querendo dizer que o façam realmente, pois ainda há os fingidos.

O novo coração é próprio de cada um e possui sempre uma espécie de chave secreta de ignição intransmissível. Este novo órgão contém ainda a possibilidade de se decompor e transfigurar de tal modo que pode perder a sua estrutura inicial e, assim, reestruturar-se vezes sem conta e criar para si novos modos de ser, inimagináveis. (...) O coração enquanto órgão voraz tem por hábito ser capaz de mastigar com prazer e grande vontade. Esta mastigação contudo, não é igual para todos nós. Uns são herbívoros, são mais lentos e são mastigadores de longa duração porque são ruminantes. Outros, pelo contrário, são rápidos e devoram tudo o que mexer à sua frente, estes são os seres carnívoros. Estes hábitos alimentares podem afectar em muito o modo como sentimos e reagimos ao sentir do outro. É por isso que os corações podem ser tão diversos e diferentes uns dos outros."
(Alexandra Mesquita)

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