Friday, November 23, 2007

Quarto com vista para o fim do mundo

Certos cientistas acreditam que há pessoas a menos na Terra, outros acreditam que há pessoas a mais. Os que defendem que há pessoas a menos, como é óbvio, nunca tentaram atravessar a Ponte 25 de Abril numa segunda-feira de manhã. (…) sempre que se publica um desses estudos segundo os quais o mundo tem excesso de população, eu sinto que sou uma das pessoas que estão cá a mais. Maldito sentimento de culpa. (…) Todos eles estão convencidos que o mundo vai acabar em Maio de 2008 (o que me causa algum transtorno porque já tenho coisas combinadas para Junho), e ameaçam cometer suicídio colectivo. Como é possível ponderar a hipótese de perder o fim do mundo, que deve ser um espectáculo tão bonito? Se me disserem que o mundo acaba daqui a 5 minutos, eu vou fazer pipocas e sento-me à janela. (…) É verdade que por mais vistoso que seja o fim do mundo, no dia seguinte não poderemos contá-lo a ninguém. Mas não deixa de ser reconfortante saber que também não há a hipótese de lermos um daqueles comentários irritantes dos críticos a quem tudo sabe a pouco: “as bolas de fogo não eram assim tão grandes. Nem chamuscado fiquei.”, ou “o Apocalipse podia ter sido mais apocalíptico, especialmente no final.” Não, meus amigos. Eu não perco o fim do mundo por nada deste mundo.
(Ricardo Araújo Pereira, in Visão)

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